Era manhã de verão assim como todas as outras. Exceto pelo fato de que resolvi refletir sobre a minha situação. Ainda sentado na cama, olhei os cantos do quarto com muita atenção. Ouvia-se apenas o ruído de oscilação da estrutura plástica do ventilador. Com o quarto abafado, aliviei-me ao sair da cama e pisar no chão gelado. Eu estava descalço e despido tanto de roupas quanto de companhias. Meu modo ilusório de pensar que algum momento ia perdurar para sempre me torturava ao saber que logo ia acabar a minha paz. Mesmo assim, me concentrei em cada detalhe presente naquele dia. Já vestido, tomei a liberdade de abrir uma janela e deixar os risos das crianças soarem pelo ambiente. A inocência e pureza expressada por aqueles pequenos seres me retornava um senso o qual havia perdido faz muito tempo. Me via pequeno novamente e ouvi-los era uma parte do que me alegrava. Com pouca disposição, esquentei uma água na chaleira para posteriormente fazer um café. Em breve eu precisaria sair. Esses pequenos momentos de harmonia comigo mesmo sempre me fizeram indagar sobre as relações com outras pessoas. Infelizmente acabamos nos apegando a outros seres e nem se quer temos garantia sobre a duração desses vínculos. É tudo tão orgânico, mas talvez seja isso que os tornem especiais: A incerteza. O tempo acaba passando e percebo que as crianças nem mais lá fora estão brincando. Era horário de almoço, família e união. No meu caso, eu estava sem ninguém. Decido dar uma última volta para ver o mar. Apesar do sol angustiante, pude ter o momento que precisava captado em minha memória. Aquela água límpida desabrochando em formato ondulado da maneira mais suave possível. Ondas sempre tiveram minha atenção desde criança e é fascinante a maneira que elas se desprendem. O tempo acaba me lembrando o mar, você nunca palpa as mesmas águas novamente. E desse modo, é impossível nadar na onda que já quebrou. Depois disso decidi voltar, pois, o horário avançava. Minhas bagagens já estavam prontas para nesse momento partir. Não sei onde uma vez ouvi alguém dizer que praia é um lugar para refletir. Devo concordar, porém, não se deve botar tanto prestígio em uma região. Entendo que a rotina da cidade muitas vezes nos engessa, porém, pensar só na praia é errado. Ninguém nunca me disse que eu não poderia levar a água e a areia do meu lado.